Repositório RCAAP
Variação sociocultural de alguns regionalismos madeirenses na comunidade de fala do Bairro da Nazaré (São Martinho, Funchal)
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Sistemas de concentração solar em aplicações agro industriais
As tecnologias de concentração solar podem ser utilizadas na produção de electricidade ou na produção dos chamados combustíveis solares, através da concentração óptica da radiação solar que permite a obtenção das elevadas temperaturas necessárias a esses processos. São as Centrais Termo-Solares (CSP) que oferecem uma grande flexibilidade pois a energia térmica produzida pode ser armazenada em tanques, para produzir electricidade mais tarde. Podem também ser hibridizadas em várias proporções com geradores alimentados por combustíveis fósseis ou de origem renovável, como é o caso da biomassa. Isto confere às centrais CSP uma característica muito importante que as diferencia pela positiva em relação às outras tecnologias que recorrem a ER, como é o caso dos parques eólicos e das centrais PV, pois permite a produção de electricidade de forma segura que pode ser despachada para a rede quando necessário. Embora a grande maioria destas centrais encontre nos grandes valores de potência o seu desenho preferencial como forma de minimizar o custo final do kWh produzido, alimentando directamente a rede de distribuição eléctrica, há vários nichos de mercado que estão abertos à tecnologia CSP e a várias escalas de aplicação que vão desde a produção de calor de processo na indústria, a preparação de alimentos, a dessalinização ou a trigeração com produção de electricidade, calor e frio. A sua utilização no sector agro-industrial insere-se no caso particular das aplicações da energia solar na indústria, mas é mais larga a gama de aplicações específicas em face dos últimos desenvolvimento no campo da produção dos chamados combustíveis solares como seja o gás de síntese (singas), H2, hidrocarbonetos leves, bio-óleos ou carvão vegetal, que igualmente irão ser abordados nesta comunicação.
Biocombustíveis: uma oportunidade ou um problema para Portugal
Apresenta-se nesta curta comunicação a problemática referente à introdução dos biocombustíveis nos transportes em Portugal na sequência da transposição para a legislação nacional das diferentes diretivas europeias (2003 e 2009). A produção de biocombustíveis em território nacional tem vindo a aumentar na sequência da política nacional de promoção dos mesmos embora as matérias-primas utilizadas (oleaginosas) sejam praticamente todas importadas com exceção do uso de matérias residuais. Particular atenção é dedicada aos dois critérios de sustentabilidade obrigatórios para que um dado biocombustível seja considerado “produzido de forma sustentável”, abordando-se ainda a problemática das alterações indiretas do uso da terra (ILUC) na sequência da recente proposta da Comissão Europeia em rever a atual diretiva nesta matéria.
2013
Gírio, Francisco Lukasik, Rafal M. Matos, Cristina T. Oliveira, Ana Cristina Silva, Luís
Ecocardiografia Transesofágica e Cirurgia Vascular
Segundo as guidelines actuais, o ecocardiograma transesofágico está indicado na cirurgia vascular major. O objetivo deste trabalho é determinar qual é o impacto do ecocardiograma transesofágico no diagnóstico de patologias da aorta susceptíveis de correção cirúrgica, na orientação da abordagem anestésica e cirúrgica e na monitorização destes pacientes no pós-operatório. Para o efeito, os seguintes itens foram estudados: impacto clínico geral do ecocardiograma transesofágico na cirurgia não cardíaca, ecocardiograma transesofágico no peri-operatório de aneurismas e disseções da aorta, da cirurgia endovascular da aorta, de lesões traumáticas da aorta, do tromboembolismo e de tumores da veia cava inferior.
Editorial
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Monitorização Cerebral em Anestesia de Cirurgia da Artéria Carótida – Controvérsias
A cirurgia da carótida condiciona alterações da perfusão sanguínea cerebral no intra e no pós-operatório monitorizadas de várias formas: sinais clínicos, electroencefalografia, potenciais evocados sensitivos, Doppler transcraniano, medição do fluxo sanguíneo cerebral, pressão arterial de retorno carotídea (stump pressure) e oximetria cerebral. Todos estes métodos têm vantagens e limitações, pelo que a sua escolha continua a ser controversa.
Estimulação Cerebral Profunda no Controlo da Dor
A estimulação cerebral profunda consiste na aplicação de estímulos elétricos em alvos neuronais subcorticais (através de elétrodos de estimulação parenquimatosos intracranianos) e tem tido uma aplicação crescente no controlo da dor. Constituem objetivos deste trabalho, uma revisão sobre os fundamentos da técnica, suas indicações e seleção de doentes e uma análise sobre a abordagem anestésica perioperatória. Procedeu-se a uma pesquisa online (PubMed) e as referências consideradas relevantes foram selecionadas e revistas. A estimulação cerebral profunda induz uma modulação descendente inibitória e diminui a hiperexcitabilidade neuronal. Está indicada em doentes cuja sintomatologia álgica é refretária à terapêutica convencional ou na presença de efeitos farmacológicos adversos graves. A seleção de doentes deve ser multidisciplinar. A colocação dos elétrodos intracranianos realiza-se por craniotomia com técnica estereotáxica e a maioria dos casos é feita com o doente acordado, durante todo o procedimento ou parcialmente, com o intuito de usar a monitorização clínica para obter maior exatidão na localização dos alvos terapêuticos e para vigilância de complicações. Não existe, porém, evidência de superioridade de nenhuma técnica anestésica. A utilização de target controlled infusion com propofol e/ou remifentanilo, pela titulação mais exata do efeito sedativo, e a dexmedetomidina, pelo seu perfil farmacodinâmico, são conceptualmente promissores na abordagem intraoperatória destes doentes. A taxa de sucesso varia entre 19% e 79% e a incidência de complicações perioperatórias entre 12% e 16%. O anestesiologista deve proporcionar condições cirúrgicas ótimas com conforto para o doente, facilitar a monitorização e diagnosticar e tratar precocemente complicações.
2014
Nora, David André, Ana Mira, Fernanda Ferreira, Cristina
As Plantas na História da Dor
Nesta revisão pretende-se elaborar uma síntese sobre a utilização das plantas na história da Medicina desde as mais remotas civilizações até à atualidade. Releva-se a necessidade de aquisição de conhecimentos sobre a utilização de fitoquímicos e potenciais interações farmacológicas, especialmente em Anestesiologia e em Cirurgia, e o controlo de qualidade dos produtos consumidos sob a forma de suplementos alimentares.
Editorial
Caros colegas, O processo de integração da Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (RSPA) no Serviço de Alojamento de Revistas Científicas Institucionais do Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) está em desenvolvimento. Esta nova etapa da nossa publicação, tal como já referido em Editorial anterior, obriga a reformulações importantes na sua edição. As Normas de Publicação são um dos aspetos objeto de revisão. A sua conceção original datada do início dos anos 90 (Editor-chefe, Dra. Laura Massa) serviu a RSPA durante este lato período de tempo como uma importante ferramenta pedagógica para os autores. A necessidade de atualização das “Normas” e adequá-las às normas de edição biomédica elaboradas pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (International Committee of Medical Journal Editors - ICMJE) e do Committee on Publication Ethics (COPE) obrigou a um trabalho exaustivo de rescrever este texto. Este processo envolveu a equipa editorial da RSPA. O texto foi submetido a uma avaliação e contributo dos colegas que compõe este órgão da revista. Da colaboração dos colegas e do apoio técnico do RCAAP resultou o documento que a atual edição transporta até vós. Neste momento, pensamos ter dotado a RSPA dos requisitos necessários para obedecer às exigências do ICMJE. O processo de tradução das “Normas” para inglês está em curso e é a etapa necessária e indispensável para a inscrição da Revista no ICMJE. Também foi necessário definir o âmbito e objetivos da revista, assim como repensar a política de “copyright” e adaptá-la ao acesso livre (open access). A tipologia dos artigos publicados pela RSPA foi alargada: Originais, Educação Médica Contínua, Revisão (Narrativa e Sistemática), Consenso, Casos Clínicos, Cartas ao Editor, Editoriais, Perspetivas e Imagens em Anestesiologia. Os critérios para publicação permanecem o mérito científico, a originalidade e o interesse para a anestesiologia. A evolução da Revista e o sucesso do processo de indexação está dependente da qualidade dos artigos que a publicação consegue editar. A RSPA é o órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia. Diversas publicações nacionais de características similares (Exemplo: Revista Portuguesa de Cardiologia, Acta Reumatológica Portuguesa ou Revista Portuguesa de Pneumologia) conseguiram obter o processo de indexação internacional (Medline). Este objetivo está ao nosso alcance. A qualidade patenteada nos Resumos das comunicações científicas submetidos ao Congresso da SPA é uma evidência de que estamos no caminho certo. A publicação de artigos é, também, uma forma de afirmarmos a Anestesiologia. Este é o desafio! Os meus melhores cumprimentos, António Augusto Martins
Via Aérea em Obstetrícia
A abordagem da via aérea na população obstétrica continua a ser um verdadeiro desafio para o anestesiologista por várias razões. As alterações anatómicas e fisiológicas associadas à gravidez são responsáveis pelo desenvolvimento rápido de hipoxemia em caso de apneia. Existe ainda risco aumentado de regurgitação e aspiração do conteúdo gástrico. As situações de urgência ou emergência em obstetrícia aumentam o risco de dificuldade na abordagem na via aérea, em doentes já potencialmente portadores de via aérea difícil. A evolução da prática anestésica, com o aumento no recurso à anestesia/analgesia loco-regional, entre outros condicionantes, tem vindo a limitar a manutenção das aptidões em intubação endotraqueal na população obstétrica. Para limitar o risco de via aérea difícil nesta população é importante conceder prioridade à anestesia loco-regional e efetuar uma avaliação cuidadosa da via aérea , no sentido de detetar as situações previsivelmente difíceis. A existência de material adequado e algoritmos de via aérea difícil é essencial nas unidades obstétricas. O treino através das técnicas de simulação assume um papel de grande interesse para o aperfeiçoamento e manutenção das competências neste contexto particular. O nosso objetivo com este artigo é realizar uma revisão sobre os problemas associados à gestão da via aérea na população obstétrica, em função da evolução recente das práticas em anestesia obstétrica, e propor um algoritmo de via aérea difícil em obstetrícia.
Exclusão Pulmonar em doente pediátrico recorrendo a cateter Fogarty
O aumento do número de intervenções com recurso a videotoracoscopia, bem como os procedimentos torácicos abertos em crianças, exigem técnicas anestésicas que providenciem ventilação pulmonar unilateral. As técnicas descritas na literatura para ventilação pulmonar unilateral em crianças são diversas porque todas elas têm as suas limitações individuais e temos sempre que adaptar a escolha da nossa técnica às possibilidades disponíveis na instituição onde trabalhamos. A utilização, bem-sucedida, de cateteres de embolectomia Fogarty como bloqueadores brônquicos para ventilação pulmonar unilateral está documentada recorrendo a diferentes técnicas. A colocação do cateter é realizada “às cegas” ou guiada e confirmada por broncoscopia ou fluroscopia. Descrevemos um caso bem-sucedido de colocação de um cateter Fogarty para ventilação pulmonar unilateral, através de um tubo endotraqueal convencional, numa criança de 2 anos proposta para ressecção do lobo pulmonar inferior direito. Esta técnica permitiu-nos uma ventilação sem intercorrências durante todo o procedimento cirúrgico.
2014
Veiga, Raquel Costa, Catarina Vargas, Susana Barros, Fernanda
Obstrução parcial do tubo endotraqueal por kinking na cavidade oral
A obstrução do tubo endotraqueal é uma complicação que pode acontecer em qualquer altura durante uma anestesia geral e requer de um rápido diagnóstico da situação. Apresentamos um caso de obstrução parcial do tubo endotraqueal numa doente de 55 anos submetida a tumorectomia de mama mais biópsia de gânglio sentinela. Foi realizada uma anestesia geral e, no decurso da intervenção foi detetado um aumento da pressão na via aérea devido ao kinking do tubo endotraqueal na cavidade oral.
2014
Fedriani, Jacob J. Ramirez, Iván Mejías, Francisco M
Editorial
Caros colegas, A Revista da SPA apresentou um processo de candidatura ao Serviço de Alojamento de Revistas Científicas Institucionais (SARC) do Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP) em Abril de 2013 e que foi aceite. Este serviço (SARC) permite oferecer um conjunto de serviços integrados associado ao alojamento de revistas científicas. Esta plataforma disponibiliza um conjunto de serviços que se estendem a todo o processo de submissão de trabalhos originais, revisão e publicação. O RCAAP (http://projeto.rcaap.pt/) tem por objetivos aumentar a visibilidade, acessibilidade e difusão dos resultados da atividade académica e de investigação científica nacional e facilitar o acesso à informação sobre a produção científica nacional em regime de “open access” bem como integrar Portugal num conjunto de iniciativas internacionais neste domínio (sic). Dentro das iniciativas internacionais é salientada a relevância dada à comunidade lusófona. Neste processo de candidatura a Revista da SPA cumpriu os critérios de elegibilidade necessários. Nomeadamente, ser uma publicação periódica, a sua disponibilização em versão digital, o processo de revisão por pares, a existência de um Conselho Editorial, a longevidade da publicação e o número de artigos publicados nos últimos três anos. Neste momento, iniciou-se o processo de parametrização básica da Revista e adaptar o que constitui a sua matriz original às normalizações exigidas por esta plataforma. Este pode ser considerado um passo importante na evolução da Revista, por diversas razões: 1. Constitui uma oportunidade de reformulação de aspetos funcionais da Revista e adaptá-la a parâmetros mais atuais e, também, mais exigentes. 2. Expandir a influência e visibilidade da publicação a públicos mais vastos, dentro e fora da comunidade lusófona. 3. A sua parametrização, segundo normas internacionais, facilita o acesso aos conteúdos e reforça-se, desta forma, o ponto anterior. 4. A publicação ao ficar mais acessível pode ser fator de motivação para um maior número de colegas a submeterem os seus trabalhos. O processo que se avizinha promete ser trabalhoso. Irá exigir algum esforço de adaptação a novas regras, mas a sistematização que a plataforma prevê promete tornar o trabalho dos autores e revisores mais organizado e, desta forma, com ganhos na eficiência. A seleção da Revista da SPA para o RCAAP deve constituir motivo de orgulho para todos os anestesiologistas. As últimas palavras são reservadas para felicitar e agradecer a todos os colegas que contribuíram para que este processo tivesse êxito, nomeadamente os autores que contribuíram com o seus trabalhos e os Editores e Conselhos Editoriais anteriores que proporcionaram a continuidade editorial e o histórico indispensável ao sucesso da candidatura. Os meus melhores cumprimentos, António Augusto Martins
Recomendações para o Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatório em Cirurgia Ambulatória
O controlo da Dor aguda Pós-operatória é um dos aspetos mais importantes, para a obtenção de resultados de qualidade no âmbito da cirurgia de ambulatório. Apesar de todos os avanços farmacológicos e tecnológicos, a dor permanece como o sintoma pós-operatório mais vezes referido, sendo a primeira causa de readmissão após cirurgia de ambulatório, podendo ainda representar um obstáculo à expansão da C.A. quando se equacionam a inclusão de procedimentos cirúrgicos mais complexos. O objetivo deste trabalho é tornar estas recomendações numa ferramenta de aplicação simples e prática a ser utilizada e adequada a cada Unidade de Cirurgia de Ambulatório, no sentido de aumentar a eficiência deste regime cirúrgico e a satisfação dos doentes. Estas recomendações resultam do trabalho conjunto de 17 Anestesiologistas Portugueses, provenientes de Hospitais com diversas realidades na prática da cirurgia ambulatória em Portugal. A primeira reunião de consenso, baseou-se na apresentação e discussão de todos os protocolos de analgesia pós-operatória das várias instituições representadas no grupo de trabalho. Esta análise mostrou-se um ponto de partida para o consenso quanto a estas recomendações e também permitiu a deteção das lacunas existentes na legislação o que levou a que um dos subgrupos de trabalho estudasse uma proposta de alteração à lei. Em várias reuniões subsequentes foi feita a análise e discussão pormenorizada do tema, recorrendo sempre à evidência científica mais recente publicada e nas questões onde não se encontrou evidência foram propostos protocolos, registada opinião e os respetivos autores. As conclusões das várias reuniões foram posteriormente divulgadas e novamente discutidas em reuniões mais abrangentes, nomeadamente no Congresso Ibérico da APCA (Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória).
2013
Sarmento, Paula Fonseca, Cristiana Marcos, Ana Marques, Manuela Lemos, Paulo Vieira, Vicente
Efeitos fetais e repercussões neonatais da anestesia obstétrica
A segurança fetal é uma prioridade constante na prática anestésica em Obstetrícia. Constituem objectivos desta revisão, uma análise da evidência científica sobre as potenciais repercussões fetais e neonatais dos procedimentos anestésicos intraparto. Procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica on-line (PubMed). As referências consideradas relevantes foram selecionadas e revistas. Comparativamente com as técnicas regionais, a analgesia de trabalho de parto com opioides intravasculares tem maior incidência de bradicardia fetal, redução da variabilidade da frequência cardíaca fetal e, tal como a anestesia geral para cesariana, associa-se a menor índice de Apgar, maior défice de bases e maior incidência de depressão respiratória neonatal. Esses efeitos são acentuados se existe sofrimento fetal prévio. A escolha do opioide para analgesia intravascular deve basear-se na farmacologia de cada agente e na evolução do trabalho de parto, constituindo o remifentanil uma solução com relação custo-eficácia favorável e com maior segurança fetal, dentro deste grupo de agentes. É importante não minimizar os potenciais efeitos secundários fetais das técnicas regionais, através da hipotensão materna e da hipertonicidade uterina, com consequente hipoperfusão uteroplacentar. Não há evidência sobre a técnica regional ideal, devendo esta ser adaptada às circunstâncias materno-fetais e ponderada em função do início e duração do efeito anestésico ou analgésico, da repercussão hemodinâmica materna e do risco de hipertonicidade uterina. A analgesia inalatória com protóxido de azoto (N2O) constitui uma alternativa válida às
Os Anestesiologistas nos Hospitais Civis de Lisboa:1940 – 1980
A Especialidade de Anestesiologia surgiu nos Hospitais Civis de Lisboa (HCL) nas décadas de 50/60 do século passado. Os Hospitais Civis de Lisboa foram oficialmente criados em 1913 como um grupo de hospitais espalhados por Lisboa. O desenvolvimento de uma Carreira Médica própria, com concursos exigentes, antecedeu largamente a criação da Carreira Médica nacional. A Carreira Médica dos HCL foi aplicada à Anestesiologia a partir de 1953 e os Serviços de Anestesia foram criados em 1969. Os Anestesiologistas confrontaram-se com dificuldades específicas relacionadas com a evolução política do país e com a estrutura física dispersa dos HCL, nomeadamente no referente à formação de novos especialistas.
Editorial
Caros colegas, A necessidade de participação ativa dos anestesiologistas em projetos fundamentais para a nossa especialidade pode e deve traduzir-se em propostas concretas. Neste sentido, publicamos neste número da Revista, em artigo de opinião, o texto ”A Anestesiologia e a Medicina Intensiva / Secção da Medicina Intensiva da SPA – fundamentos para a sua criação”. As origens ou causas do relativo “distanciamento” da especialidade por esta área são do conhecimento de todos. A proposta em causa – a criação da Secção da Medicina Intensiva da SPA – pode constituir um passo importante para o congregar de vontades e expressão da Anestesiologia nesta competência tal como está definida pela União Europeia dos Médicos Especialistas / Secção de Anestesiologia. A multidisciplinariedade é um conceito integrante da vivência hospitalar. A sua prática diária visa proporcionar o mais elevado nível de cuidados a prestar ao doente. Um dos aspetos mais relevantes, em paralelo com os aspetos clínicos, é sublinhado na introdução do artigo de revisão “Profilaxia do tromboembolismo venoso no doente cirúrgico”. Salienta-se, aqui, o conceito de responsabilidade multidisciplinar (não só clínica, mas com potenciais implicações médico-legais) que o Programa “Cirurgia Segura, Salva Vidas” vem reforçar. Neste âmbito de responsabilidade partilhada e, na qual o tema da profilaxia do tromboembolismo venoso está incluída na “Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica e o Índice de Apgar Cirúrgico”, a recente Norma da Direção-geral da Saúde (nº 02/2013 de 12/02/2013) torna esta check-list um procedimento “obrigatório em todos os blocos operatórios do Serviço Nacional de Saúde e das entidades com ele contratadas, sendo considerado o padrão mínimo de qualidade clinica.” 1 Esta norma vem referida no Diário da República, 2ª série – Nº 38 – 22 de fevereiro de 2013, por Despacho nº 2905 que reforça o carácter obrigatório da referida norma, através de sistemas informáticos, e responsabiliza o diretor do Bloco Operatório na aplicação do programa. 2 Na secção de casos clínicos abordam-se duas situações distintas: - Uma patologia rara, o Angioedema Hereditário, entidade de transmissão autossómica hereditária dominante. O episódio de crise na sua apresentação clínica mais grave envolve o edema das estruturas da via aérea com uma elevada taxa de mortalidade. São abordados aspetos relevantes de terapêuticas, atualmente, disponíveis que permitem abordar esta patologia com alguma segurança. - Um edema pulmonar de pressão negativa, entidade clínica de baixa frequência que ocorreu no pós-operatório imediato em doente jovem e sem patologia associada. Na continuidade das Histórias da História da Anestesiologia Portuguesa relata-se a implementação da Consulta da Dor no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil – Lisboa e no que representou de importância para a abordagem específica da terapêutica da dor, em particular da crónica. E, por fim, duas notas finais: Uma nota de apreensão pela suspensão da publicação em papel da Revista do CAR. Um veículo de comunicação com uma história importante na divulgação da Anestesia Regional (e não só) em língua portuguesa e, que por razões que o seu editor enquadra em editorial, vai deixar de nos acompanhar na sua versão impressa. Esperamos que tal situação seja transitória e de curta duração. O Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia de 15 a 17 de Março – 2013 realiza-se em Cascais sob o tema do “Doente Crítico”. Um tema abrangente e transversal para a nossa especialidade. A conjuntura económica adversa em que vivemos produz constrangimentos de toda a ordem pelo que o esforço solicitado, neste aspeto, será de uma dimensão maior. Apela-se à participação dos anestesiologistas para o maior evento anual da Sociedade e de grande importância para todos. Os meus melhores cumprimentos, António Augusto Martins Bibliografia 1. Direção Geral de Saúde. Normas e orientações.Disponível em www.dgs.pt/?cr=23652 2. Diário da República. Disponível em dre.pt/pdf2sdip/2013/02/038000000/0718007180.pdf
Carta da Anestesiologia e Direitos do Cidadão / Declaração de Coimbra
Carta da Anestesiologia e Direitos do Cidadão O médico anestesiologista é perito nas áreas da Anestesia para procedimentos cirúrgicos e exames complementares, Medicina Peri-operatória, Medicina Intensiva, Medicina de Emergência e Medicina da Dor. É o médico responsável pela segurança do cidadão doente nas situações críticas e de grande vulnerabilidade, no âmbito das suas competências. Direitos do cidadão Acesso sem discriminação à Medicina Peri-operatória, Medicina Intensiva, Medicina de Emergência e Medicina da Dor; • Receber cuidados prestados por anestesiologistas com competência e treino nas diversas áreas; • Aceder a estes cuidados em tempo útil; • Privacidade e intimidade no decurso da assistência anestesiológica prestada; • Confidencialidade de toda a informação clínica e elementos identificativos; • Fim de vida com dignidade, apoiado por médicos com competência em Medicina da Dor e formação em cuidados paliativos; • Respeito pelo testamento vital; • Apresentar sugestões e reclamações. Informação adequada • Ser avaliado e informado numa consulta de Anestesia;• Ser informado sobre a técnica anestésica, analgésica, cuidados peri-operatórios e complicações possíveis. Ato anestesiológico de qualidade e seguro • Cuidados peri-operatórios prestados por um anestesiologista;• Vigilância intraoperatória assegurada por um anestesiologista que controle as suas funções vitais; • Vigilância pós-operatória em Unidades de Cuidados Pós-anestésicos, onde o anestesiologista possa dar continuidade à prestação de cuidados relacionados com a recuperação das funções vitais e com o controlo da dor; • Avaliação e orientação no pós-operatório em consulta de follow-up, por anestesiologistas. Terapêutica da dor, qualquer que seja a sua causa, por forma a evitar sofrimento desnecessário e reduzir a morbilidade que lhe está associada • Garantia de adequado controlo da dor aguda pós-operatória proporcional à agressividade do ato cirúrgico e adotando modelos organizados de intervenção (Unidades de Dor Aguda); • Ter acesso à prevenção e controlo da dor provocada ou consequente aos exames de diagnóstico e tratamentos médicos; • Adequado controlo doutras formas de dor aguda resultantes de trauma ou de patologia de qualquer origem; • Escolha informada entre várias técnicas de analgesia de trabalho de parto prestada por anestesiologistas; • Prevenção da dor crónica pós-operatória;• Ser referenciado, em tempo útil, para consulta de Medicina da Dor dotada de recursos humanos e materiais adequados. Medicina Intensiva e de Medicina de Emergência • Receber assistência médica pré e intra-hospitalar de emergência, adequada e célere;• Receber o máximo tratamento disponível desde que proporcional às suas necessidades, e com real beneficio para si; • Ser informado, bem como os familiares próximos, sobre o diagnóstico, prognóstico e eficácia dos meios terapêuticos utilizados; • A terapêutica que produza amnésia, com ponderação e de acordo com quadro clínico de dor e ansiedade, tendo em conta a perda de autonomia e de memória resultantes; • À suspensão de tratamentos fúteis e à abstenção do encarniçamento terapêutico;• A ser acompanhado pelos familiares, na morte consciente, quando o conhecimento médico e os meios técnicos disponíveis não permitem salvar a vida ou evitar sequelas compatíveis com uma qualidade de vida eticamente aceitável. O médico anestesiologista deve: Fornecer ao cidadão todas as informações relativas aos cuidados anestesiológicos, de modo claro e esclarecedor, dentro dos limites legais da sua prática profissional e tendo em conta os recursos disponíveis. Obter o consentimento informado para o procedimento proposto; • Assegurar a confidencialidade de toda a informação clínica e elementos identificativos do cidadão; • Manter-se treinado e atualizado cientificamente. O cidadão deve: Fornecer ao anestesiologista todas as informações necessárias, nomeadamente doenças e terapêuticas associadas incluindo as alternativas, para a obtenção de um correto diagnóstico e adequada abordagem anestesiológica; • Colaborar com o anestesiologista, respeitando as indicações que lhe são recomendadas e por ele livremente aceites. DECLARAÇÃO DE COIMBRA Nós, Diretores dos Serviços e Departamentos de Anestesiologia Portugueses, reunidos em Coimbra no dia 16 de Outubro de 2012, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Anestesiologia, sob a égide da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia e, em torno do tema “A Anestesiologia e os Direitos dos Cidadãos”, Conscientes dos contributos sociais, humanistas e personalistas que esta especialidade dá aos direitos de cidadania, Reafirmando a importância do direito de todas as mulheres à analgesia do trabalho do parto, com vista a um parto sem dor, Destacando a importância da segurança do doente, da segurança da anestesia e do tratamento da dor, Reafirmando o nosso compromisso com a emergência médica e os cuidados intensivos, Enaltecendo o direito a um final de vida com dignidade, Levando em consideração as áreas em que os Anestesiologistas são peritos, reconhecidas no seio da UEMS - União Europeia dos Médicos Especialistas – Anestesia, Medicina Peri-operatória, Medicina Intensiva, Medicina de Emergência e Medicina da Dor, ACORDAMOS 1. Reforçar a nossa intervenção junto dos cidadãos, criando laços de proximidade que reforcem o conhecimento dos avanços e da excelência da Anestesiologia Portuguesa. 2. Reafirmar que os médicos anestesiologistas são peritos nas áreas da anestesia para procedimentos cirúrgicos e exames complementares de diagnóstico, medicina peri-operatória, medicina intensiva, medicina de emergência e medicina da dor. 3. Considerar a importância do conhecimento destes médicos especialistas na actividade de cuidados paliativos, destacando o papel da sociedade e do Estado no acesso dos cidadãos a estas unidades, contribuindo para a dignidade no fim da vida. 4. Destacar a importância do acesso de todos os cidadãos às mais modernas técnicas anestésicas, independentemente da região, do hospital ou do procedimento, com o objectivo de contribuir para a coesão nacional. 5. Promover a criação ou desenvolvimento de unidades de tratamento de dor aguda, integradas nos serviços de anestesiologia. 6. Insistir na referenciação dos cidadãos com dor crónica para a consulta de medicina da dor dotada com os recursos humanos e materiais adequados à situação clínica. 7. Reafirmar os valores e os princípios dos direitos dos cidadãos a: a. Acesso sem discriminação à Medicina da Dor, Medicina Peri-operatória, Medicina Intensiva e Medicina de Emergência; b. Receber cuidados prestados por Anestesiologistas que tenham competência e treino nas diversas áreas; c. Acesso a estes cuidados em tempo útil. 8. Que todos os hospitais portugueses disponham de Serviços de Anestesiologia com autonomia e independência funcional, administrativa, técnica e científica. 9. Destacar o requerido papel do Estado para incentivar as políticas de investigação e de ensino em Anestesiologia. 10. Reiterar junto de todas as Faculdades de Medicina Portuguesas a importância e a exigência científica da integração do ensino da Anestesiologia nos programas curriculares do curso de medicina. 11. Realizar os esforços necessários para que se possam duplicar em 3 anos o número de doutorandos em Anestesiologia. 12. Valorizar as melhores práticas para responder adequadamente aos desafios colocados pelas dificuldades financeiras do País, apoiando os esforços de rigor orçamental e de execução financeira das instituições, através da reorganização dos serviços, do rigor na prescrição clinica e da valorização do trabalho em equipa. 13. Promover junto das administrações hospitalares a necessidade de acreditação dos serviços e das práticas clínicas, como instrumento de qualidade. 14. Que, em consequência, se disponibilizem os meios organizacionais que permitam a constituição de serviços ou departamentos consistentes e abrangendo as áreas em que os anestesiologistas são peritos. 15. Estimular o intercâmbio com serviços congéneres nacionais e internacionais, através de uma plataforma a implementar com os vários agentes sociais profissionais. 16. Valorizar a participação dos anestesiologistas em missões humanitárias e atividades de solidariedade e compromisso social. 17. Defender o fortalecimento do investimento dos hospitais em equipamentos mais seguros e em estruturas mais modernas e adequadas para as diversas áreas de actividade da Anestesiologia, enfatizando o papel chave que deve cumprir, nesse contexto, o financiamento internacional através dos programas de coesão existentes. 18. Promover franco diálogo junto das administrações hospitalares para que estas tomem consciência da importância essencial e crescente – no contexto da economia, da organização, da cidadania e da qualidade – de que os serviços de Anestesiologia são promotores da melhoria da qualidade assistencial e da eficiência hospitalar. 19. Reafirmar o apoio da Anestesiologia portuguesa à Declaração de Helsínquia sobre a segurança do doente. Coimbra, 16 de Outubro Diretores de Serviço de Anestesiologia Portugueses Centro Hospitalar Alto Ave, EPE Centro Hospitalar de Leiria-Pombal, EPE Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE Centro Hospitalar de Oeste Norte Centro Hospitalar de Setúbal, EPE Centro Hospitalar de Torres Vedras Centro Hospitalar de Vila Nova Gaia-Espinho, EPE Centro Hospitalar do Baixo Vouga, EPE – Aveiro Centro Hospitalar do Porto, EPE Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE Centro Hospitalar Médio Tejo, EPE Centro Hospitalar São João-Porto, EPE Centro Hospitalar Tondela-Viseu, EPE Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE Hospital Central do Funchal Hospital de Braga Hospital de Faro, EPE Hospital de Santo Espírito – Angra Heroísmo-Açores Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE Hospital Distrital de Santarém, EPE Hospital do Divino Espírito Santo – Ponta Delgada – Açores Hospital Dr. Francisco Zagalo, EPE – Ovar Hospital João Crisóstomo – Cantanhede Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE Instituto Português de Oncologia Dr. Francisco Gentil, EPE – Porto Instituto Português de Oncologia, Dr. Francisco Gentil, EPE – Coimbra Instituto Português de Oncologia, Dr. Francisco Gentil, EPE – Lisboa Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, EPE Unidade Local de Saúde Matosinhos, EPE Unidade Local de Saúde Nordeste, EPE Unidade Local de Saúde Norte Alentejano, EPE Presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Profilaxia do tromboembolismo venoso no doente cirúrgico
O papel da anestesiologia numa responsabilidade multidisciplinar A eficácia da profilaxia do tromboembolismo venoso no doente cirúrgico está demonstrada e tem um grande impacto epidemiológico e económico. Os recursos e indicações em termos de terapêutica profilática devem ter em conta os fatores de risco específicos do doente, aqueles inerentes ao procedimento cirúrgico e os relacionados com a própria anestesia. Apesar do evidente contributo para a melhoria do prognóstico, as recomendações de profilaxia do tromboembolismo venoso no doente cirúrgico continuam a não estar completamente implementadas nos hospitais. Este facto prende-se com várias barreiras, desde o desconhecimento das recomendações, à dificuldade em avaliar diferentes graus de risco e populações de risco adicional, ao receio de complicações associadas, até à ainda não integrada responsabilidade multidisciplinar. Acresce a necessidade de reforçar a importância do registo de execução e do controle de processo. Os reguladores já puseram em prática programas no sentido de vencer estas barreiras, mas estamos longe de um nível de excelência transversal a todo o doente cirúrgico. O objectivo deste artigo é apresentar as mais recentes recomendações de prevenção do tromboembolismo venoso no doente cirúrgico, nomeadamente as do nono consenso do American College of Chest Physicians e as suas implicações na conduta anestésica, procurando estratégias para vencer algumas das barreiras existentes à sua implementação.
Abordagem anestésica de doente com angioedema hereditário proposto para cirurgia electiva
O angioedema hereditário é uma entidade rara, com transmissão autossómica dominante, causada por deficiência no inibidor de C1. Esta condiciona uma ativação descontrolada da via clássica do complemento e da cascata das cininas, sendo responsável por episódios de angioedema com possível comprometimento da via aérea. Os autores descrevem um caso clínico de um doente com 36 anos com angioedema hereditário tipo I proposto para colecistectomia electiva sob anestesia geral, tendo sido tomadas algumas medidas preventivas para evitar o angioedema da via aérea, nomeadamente a administração pré-operatória de 1000 unidades de concentrado de inibidor de C1. Descrevem sucintamente a fisiopatologia, clínica e implicações anestésicas na abordagem de doentes com esta patologia.
2014
Conceição, Luís Martinho, Hélder Azenha, Marta